Descer impostos "é irresponsabilidade total"

Economista e antigo ministro das Finanças afirmou perante a bancada do PS que com cortes previstos pela troika vão ser necessários "sacrifícios bastante maiores que os impostos até agora".
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Foi a intervenção de um "pessimista", como se assumiu perante os deputados socialistas, nas Jornadas Parlamentares do PS, que esta terça-feira terminam na Nazaré. José da Silva Lopes, economista e antigo governador do Banco de Portugal e ministro das Finanças, deixou "números nada animadores" sobre os tempos que se aproximam.

Perante o último relatório do FMI, divulgado após a 10.ª avaliação da troika, que propõe um saldo primário orçamental positivo de 3,5%, Silva Lopes deixou o aviso: "Vamos ter de impor sacrifícios bastante maiores que aqueles que foram impostos até agora."

Logo depois lançou o alerta de que o corte de 4,6% do PIB "que nos espera" para 2014-2016 será uma forte machadada. Mais ainda quando se sugere uma baixa de impostos, como tem sido defendido pelo Governo, notou o economista. "O CDS e o PSD andam a propor uma coisa como a baixa de impostos é uma irresponsabilidade total", atirou. "Um disparate perigosíssimo", completou. "Cada milhão de euros que tiram aos impostos, é um milhão de euros que tiram à despesa", ilustrou.

Neste ponto, Silva Lopes lançou uma farpa ao recente entendimento dos socialistas com a maioria governamental na descida do IRC. "Estou muito desiludido com a posição que o PS tomou em relação" a este imposto, apontou. "A ideia de que baixar o IRC vai desenvolver a economia é falso", disse, tirando o tapete a um dos argumentos defendidos pelos socialistas.

O economista defendeu ainda que "esta não é a altura de fazer uma reestruturação da dívida", registando que uma saída limpa - "que vai acontecer, ninguém nos vai deixar ter outra", afirmou - só devia acontecer com juros à irlandesa. "Com juros a 5% vai ser um desastre", afirmou.

Silva Lopes insistiria que deve haver "mais crescimento da dívida pública para que o corte de défice não seja tão rápido, deve ser gradual". Afinal, sublinhou, o Governo "está a usar [o] esforço [imposto pela troika] para impor a sua agenda ideológica".

O antigo governador do banco central defendeu que o crescimento económico deve ser feito pelo sector dos bens transacionáveis, propondo que as pequenas e médias empresas deste sector sejam beneficiadas com um "tratamento discriminatório".

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